Na maioria dos livros, a História da Umbanda está diretamente ligada ao Caboclo das Sete Encruzilhadas, entidade recebida pelo médium Zélio Fernandino de Moraes, lá pelos idos de 1908.
Na versão oficial, digamos assim, o médium recorreu a um Centro Espírita Kardecista no Rio de Janeiro em decorrência da sua paranormalidade.
Chegando lá, foi convidado a compor a corrente e num determinado momento recebeu um Caboclo.
Alguns relatam que nesse dia outros médiuns também incorporaram caboclos e pretos escravos.
E todos foram gentilmente convidados a se retirar, porque o kardecismo “não aceita” esses guias, os vê como “espíritos atrasados”.
Inconformado com a discriminação, o Caboclo mandou a real:
“(…) se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã estarei na casa deste aparelho (Zélio), para dar início a um culto em que estes pretos e índios poderão dar sua mensagem e, assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou.
Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos encarnados e desencarnados.
E se querem saber meu nome, que seja Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque não haverá caminhos fechados para mim.”
E assim teria começado a umbanda..
.. segundo essa versão mais popular e aceita por (vários) umbandistas, e que estamos chamando de “oficial”.
Nessa versão, a Umbanda é um movimento de resistência religiosa que sempre existiu no seio do povo colonizado..
.. até mesmo antes de ser colonizado.
O Espiritismo Kardecista é euro centralizado, Allan Kardec era francês, e veio com um conjunto de valores da elite europeia, em detrimento da sabedoria popular afro tupiniquim, baseada na cultura de pretos e índios..
.. um conhecimento não só desprezado, como evitado pelo invasor europeu (católico).
A Umbanda surgiu como expressão popular do espiritismo, ou, podemos dizer, uma alternativa popular para o mesmo fenômeno (de incorporações espíritas).
Antes mesmo do Caboclo das Sete Encruzilhadas, outros caboclos e pretos velhos percorreram terreiros e macumbas em geral.
Por analogia, podemos dizer que até hoje a Umbanda é um movimento popular de resistência..
.. por isso que existem várias umbandas..
.. é uma questão de concepção.
As religiões, de maneira geral, são concebidas de cima pra baixo..
Mesmo o Cristianismo, apesar de Jesus ter sido um homem do povo, as vertentes católicas e protestantes vem com uma estrutura pronta, pré definida lá fora.
O Vaticano define uma regra e todo o mundo (do universo católico) passa a obedecer.
A Umbanda, por sua natureza, percorre caminho inverso, de baixo pra cima..
.. por essa razão existem várias Umbandas porque existem várias demandas conectadas diretamente com as vontades do povo..
.. a profusão de correntes é salutar.
O mais importante nesta questão, é ter consciência sobre o processo de formação da religião..
.. por essa ótica, não existe a melhor umbanda..
.. todas são boas..
.. não existe “a verdadeira”..
.. porque todas são verdadeiras.
Vou citar algumas vertentes abaixo, um recorte do excelente trabalho de Renato Guimarães.
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