O conceito de esquerda e direita sempre esteve ligado à reforma ou a preservação de sistemas sociais.
Tradicionalmente falando, a esquerda busca mudanças, teoricamente em prol do povo, enquanto a direita defende a manutenção do status quo.
Fazia algum sentido quando se limitava, em certa medida, ao aspecto econômico.
A esquerda em defesa da distribuição de renda, reforma agrária, acesso universal à saúde, melhores condições de trabalho, redução da mais valia, etc..
E a direita, formada por ricos, o contrário, claro.
Os interesses dos ricos são contrários ao do “resto” da população por razões óbvias.
- Rico não quer distribuir, quer acumular (do contrário, deixaria de ser rico);
- Rico não quer reforma agrária, quer ser dono de toda a terra;
- Rico não quer acesso universal à saúde, quer privatizar a saúde para ficar mais rico.
Além disso, considera desperdício oferecer aos pobres o mesmo tratamento médico que recebe.
O rico é excludente por natureza.
Toda riqueza é produzida pelo trabalho, portanto é inerente ao rico extrair o máximo possível dessa relação.
Quanto menos gastar com o trabalhador, mais rico fica.
Mantida essa coerência econômica, não deveria haver dificuldade alguma para separar o que é esquerda e o que é direita.
Mas aí surgiu o identitarismo.
Dividir para conquistar
O identitarismo é uma estratégia de dominação baseada na fragmentação social.
Sua implantação requer uma reprogramação ideológica para alterar a escala de valores das pessoas, e levá-las a considerar mais importantes aspectos que, de fato, são secundários.
Isso significa colocar questões econômicas (que são primárias) abaixo de questões de raça, gênero, religião..
O Brasil certamente é um laboratório dessas operações e esse trabalho ficou bastante visível a partir das jornadas de julho de 2013, uma mini revolução colorida num contexto de guerra híbrida.
Um movimento insano, a partir de um aumento de 20 centavos nas tarifas de ônibus de São Paulo, que foi do nada para lugar algum, mas fragilizou muitas lideranças políticas, porque, de fato, parou o país.
É aquela lapada que “não mata”, mas promove dança de cadeiras.
Sacode a roseira.
Alguém teve que fazer concessões.
E evoluiu para “lutas” absurdas como o “Não vai ter Copa” (sendo a Copa de Mundo um momento extraordinário para gerar riqueza com turismo), entre várias outras loucuras.
Confundir para dominar
A TV teve um papel fundamental nesse processo, mentiu deliberadamente em praticamente 100% do tempo.
Fôssemos um país sério, todas essas concessões públicas seriam cassadas e os responsáveis presos.
Mas tiveram a liberdade de mentir 24 horas por dia, 7 dias por semana e enlouqueceram muita gente.
Nessa de lutar por seus “direitos” (identitários), teve um cidadão que enfiou um crucifixo no ânus. Não preciso falar mais nada, né..
O país se tornou um manicômio à céu aberto, fragilizou um monte de gente séria e permitiu uma série de ilegalidades escabrosas, como o impeachment da Dilma e a prisão do Lula, 2 aperitivos para o que viria a seguir.
Coletivamente falando, nós literalmente abrimos as portas para um bando de picaretas.
Hoje o congresso nacional representa qualquer coisa, menos o povo brasileiro.
O judiciário, vixe..
Os militares..
Esquerda x Direita, debate sem sentido
Atualmente não faz sentido algum usar as “tags” esquerda x direita porque o significado original (que já não era muito claro) perdeu-se completamente.
Isso acontece em todo o ocidente por conta do estágio terminal do capitalismo (em sua fase mais selvagem, neoliberal) que usou e abusou da mídia para mascarar suas propostas e confundir o povo.
Estou convencido de que esse processo “derreteu” o cérebro de milhares de pessoas (um impacto neuro psicológico que ainda precisa ser estudado).
O governo “esquerdista” do PT atual, Lula, é igual ao do “extrema direita” Bolsonaro, ou não?
É a mesma diferença que existe entre os Democratas e Republicanos nos EUA, ou seja, nenhuma.
Neste exato momento (Nov/2024), o ministério da fazenda de Haddad propõe limitar o reajuste do salário mínimo para “economizar” dinheiro.
Entenda, o salário mínimo brasileiro já é uma miséria, já é defasado, e é a base de cálculo das aposentadorias, que já são extremamente baixas, insuficientes para sustento dos velhinhos.
E é desses velhinhos pobres, doentes, que ele quer extrair mais “lucro” que, por sua vez, servirá mais tarde para remunerar investidores da “dívida pública”.
Dívida pública que é um tipo de estelionato e já consome cerca de 50% de todos os impostos arrecadados no país.
Isso é direita ou esquerda?
Fuja das etiquetas
Portanto, esqueça as etiquetas, o governo atual, travestido de esquerda, é pura direita predatória.
Também era a Dilma, o Temer, o Bolsonaro, e provavelmente o próximo, que virá com uma pegada anarco capitalista, estilo Milei (Argentina, onde a miséria explodiu), para atacar o povo.
Para ganhar voto, muita gente se disfarça de esquerdista, principalmente os identitários, que tentam colar a ideia equivocada de que todo preto é esquerdista ou todo gay, ou toda mulher. Não é.
Foque nas ações.
Se são excludentes, é direita.
Ao contrário, se são inclusivas, é esquerda.
O resto é balela.