O Bhagavad Gita, quinto livro do grande épico hinduísta Mahabarata, narra os ensinamentos que Krishna dá para Arjuna.
Estes ensinamentos começam a ser transmitidos no campo de batalha, quando a guerra entre Pandavas e Kauravas está para iniciar e Arjuna sente-se oprimido e incapaz de lutar contra seus parentes e amigos.
Nestes ensinamentos Krishna revela verdades transcendentais a Arjuna.
O primeiro ponto importante do Bhagavad Gita é exatamente o momento inicial.
Arjuna diz que não lutaria, diz preferir renunciar ao reinado a ver todos mortos, e questiona se seria correto matar.
Assim, angustiado, Arjuna pede que Krishna oriente-o.
Arjuna representa o caminhante e seu vacilo é o de todos nós diante da guerra contra nossos inimigos internos, contra o desejo, os maus hábitos, os prazeres dos sentidos. Esta hesitação está em nosso derrotismo, em nossas justificativas, em nossas debilidades.
As primeiras palavras de Krishna são: “Não cedas a fraqueza que de nada serve. Enche-te de coragem contra teus inimigos e sê o que realmente és!”.
E então o Senhor Supremo fala da imortalidade da alma, da impermanência do mundo material, do dharma.
Mostra que o não agir de Arjuna era covarde e somente quem tem o poder, a capacidade de fazer algo é que pode realmente renunciar, quem ainda não tem, deve primeiro conquistá-lo, deve primeiro aprender a resistir ao mal e, neste caso, resistir ao mal era seu dever.
Explica que Arjuna deveria agir sem desejar ou repudiar os frutos da ação, sempre com perfeição, entusiasmo e alegria e que só aquele que permanece sereno e imperturbável diante do prazer e da dor alcança a libertação.
Diz Krishna: “Aceitando prazer e dor, ganho e perda, vitória e derrota com a mesma serenidade de espírito, entra na peleja e não perderás!”
Logo adiante o Senhor Supremo diz: “Agir é teu dever; mas não deves visar aos frutos de tua ação. Não permitas que tua ação seja inspirada pelo desejo dos frutos, mas também não caias na inatividade!”
Deste modo, a essência do Bhagavad Gita é o reto agir, o dharma, o karma-yoga, o serviço desinteressado.
Mais adiante no diálogo, Arjuna pergunta sobre como é aquele que atingiu a sabedoria perfeita e então Krishna fala da importância do autoconhecimento e de controlar os sentidos e mente, diz Ele: “Os sentidos descontrolados, ó Arjuna, arrebatam com violência até mesmo a mente daquele que tem discernimento e se esforça em controlá-los.”.
Em seguida o Senhor Supremo explica que aquele que dominou os sentidos e a mente, que é capaz de não rejeitar e nem se apegar a nada, alcançou a sabedoria perfeita.
Mais adiante Krishna fala das várias formas de salvação e indica a devoção, o serviço devocional como a forma mais elevada.
O Bhagavad Gita é o primeiro livro a falar da devoção como caminho para libertação.
No Bhagavad Gita, Krishna diz que se alguém conseguir manter sua mente Nele no momento da morte, então vai ter com Ele.
Mas isso só pode acontecer se nossas mentes estiverem acostumadas a lembrar dos Santos nomes de Deus, se todas as nossas ações forem atos de adoração.
Pois, no momento da morte, nossos corações e mentes vão para onde estão acostumados, para onde as paixões os atraem.
Quanto aos atos de devoção, diz Sri Krishna: “Se alguém, com fé e amor, oferecer-me algo, por menor que seja – uma folha, uma flor, uma fruta, um gole de água – eu aceitarei com prazer. O que quer que fizeres ou deres, ó príncipe – sejam austeridades, doações ou atos comuns – oferece-me sempre com o coração cheio de devotamento.”
É no Bhagavad Gita que Krishna se revela e fala de suas qualidades, atributos e sua transcendência como Deus Supremo.
Diz Sri Krishna: “Eu sou a Essência Espiritual que habita nas profundezas da alma e no íntimo de cada criatura. Sou o princípio, o meio e fim de tudo. Entre os sábios sou a sabedoria; entre as palavras sagradas sou o AUM; entre as montanhas sou o Himalaia; das preces dos santos sou o êxtase. Eu sou a força dos fortes, a beleza dos belos, a astúcia dos astutos, o saber da inteligência dos sábios; dos mistério sou o silêncio. Ó Arjuna! Sem limites é a plenitude de meu ser, imensa é minha grandeza. O que te disse não passa de pequenina parcela. Em todo universo, onde quer que haja algo glorioso ou belo, bom ou poderoso, saiba, ó príncipe, que emana de uma pequena centelha de Meu esplendor.”
Contudo, Arjuna diz que deseja conhecer o Senhor Supremo em sua forma Cósmica e então Sri Krishna, o Senhor Supremo, o Todo Misericordioso, diz: “Contempla-me, ó Arjuna!” e revela-se a ele.
E Arjuna viu ilimitadas visões maravilhosas; viu que a Forma estava decorada de muitos ornamentos celestiais e armas divinas; viu que Ela usava guirlandas e vestes celestiais; viu o resplendor de centenas de milhares de sóis; tudo era maravilhoso, brilhante, ilimitado e não parava de expandir-se.
Perplexo e atônito, Arjuna prosterna-se em reverência, adora o Senhor e canta Suas glórias.
Deste modo, a essência do Bhagavad Gita é a devoção, o bakti-yoga, a entrega, é, antes de tudo, o próprio Krishna, o Senhor Supremo.
Depois Krishna fala dos diferentes tipos de devotos e das diferentes formas de devoção.
Mais adiante fala das qualidades daquele que alcançou a libertação.
E um pouco mais adiante fala das qualidades daqueles que andam pelo caminho, diz o Senhor Supremo: “Destemor, purificação da própria existência; cultivo de conhecimento espiritual; caridade; autocontrole; execução de sacrifícios; estudo dos Livros Sagrados; austeridade; simplicidade; não violência; veracidade; estar livre da ira; renúncia; tranquilidade; não gostar de achar defeitos; compaixão para com todas as entidades vivas; estar livre da cobiça; gentileza; modéstia; firme determinação; vigor; clemência; fortaleza; limpeza, estar livre da inveja e da paixão pela honra.”
No último capítulo, Krishna fala da renúncia aos objetos dos sentidos, diz o Senhor Supremo: “Aquilo que no começo pode parecer veneno, mas que no final é tal qual néctar e que causa o despertar da autorrealização, diz-se que é bem-aventurança. A felicidade que deriva do contato dos sentidos com seus objetos e que parece néctar no começo, mas no final é um veneno, diz-se que é da natureza da paixão.”
Depois diz: “Assim, Eu lhe expliquei o conhecimento bem mais confidencial. Delibere sobre isto detidamente, e então faça o que você deseja fazer. Porque você é Meu queridíssimo amigo, estou falando para você Minha instrução suprema, o mais confidencial de todos os conhecimentos. Ouça enquanto falo isto, pois é para seu benefício. Pense sempre em Mim e converta-se em Meu devoto. Adore-Me e ofereça-Me suas homenagens. Assim, você virá a Mim impreterivelmente. Eu lhe prometo isto porque você é Meu amigo muito querido.”
No final do Bhagavad Gita diz o narrador: “Quando me recordo deste magnífico e santo diálogo transcorrido entre Krishna e Arjuna, sinto-me em júbilo; grande é minha alegria, indizível a beatitude que enche de entusiasmo minha alma. Onde quer que esteja Krishna, o Senhor de todos os místicos, e onde quer que esteja Arjuna, o arqueiro supremo, com certeza também haverá opulência, vitória, poder extraordinário e moralidade.”
Deste modo, a essência do Bhagavad Gita é a inspiração, a amor ao Divino, a devoção.
A essência do Bhagavad Gita é antes de tudo, o próprio Krishna, o Senhor Supremo.
Fonte: http://jardimdosmestres.com.br/a-essencia-do-bhagavad-gita-2/