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A crise ética e a cilada que armamos para nós mesmos

Parábola das colheres com cabo grande

A competição é condição primordial inerente ao sistema capitalista e também o seu “calcanhar de aquiles”, porque empurra os humanos a perseguirem objetivos individuais em detrimento da coletividade que, por sua vez, é o que dá sustentação para enfrentar desafios econômicos, sociais ou ambientais.

Isso significa que cada vez mais buscamos atingir nossos objetivos individuais, somos mais egoístas, e cada vez mais a nossa sociedade se enfraquece (estado mínimo).

E a recíproca é verdadeira, ou seja, um estado enfraquecido prejudica nossos objetivos individuais por falta de estrutura (falta segurança, saúde, educação, transporte, falta pontes, avenidas, controle, fiscalização, etc, etc).

É um círculo vicioso.

Neste contexto, uma das primeiras vítimas é a ética.

Por exemplo: hoje vi uma reportagem sobre o alto índice de desobediência no trânsito dos motoboys em São Paulo.

Mas o pano de fundo é o excesso de trabalho imposto pelas plataformas (aplicativos) terceirizados para entrega de produtos (quarterizados, na verdade).

Para atingir seus objetivos individuais, o motoboy ao invés de se sindicalizar, fortalecer o coletivo e lutar por melhores condições de trabalho, opta por trabalhar mais.

Alguns trabalham até inacreditáveis 18 horas por dia, e mesmo assim, para dar conta do trabalho, precisam praticar irregularidades no trânsito, como atravessar sinal vermelho, andar acima da velocidade, parar em local proibido, etc.

Nesse caso, um detalhe chama a atenção: considerando que cidades como São Paulo são lotadas de radares “inteligentes”, deve ter muita moto com chapa fria rodando por aí (oras, como é que o sujeito vai conseguir pagar todas as multas?).

Diz o dito popular, um homem nu não pode lhe dar uma camisa.

Que ética vc acha que tem um motoboy que anda por aí, trabalhando 18 horas por dia, sem respeitar lei de trânsito numa moto com chapa fria?

O cidadão está em modo sobrevivência..

E outra questão que vem coladinha a esta: será que vc é inocente nesse processo ou a sua demanda que produz essa condição?

Afinal de contas, que sociedade estamos construindo?

Esse raciocínio nos remete a uma parábola, vou compartilhar contigo:

As Colheres de Cabo Comprido

Conta uma história que Deus convidou um homem para conhecer o céu e o inferno.

Foram primeiro ao inferno.

Ao abrirem uma porta, o homem viu uma sala em cujo centro havia um caldeirão de substanciosa sopa e à sua volta estavam sentadas pessoas famintas e desesperadas.

Cada uma delas segurava uma colher, porém de cabo muito comprido, que lhes possibilitava alcançar o caldeirão, mas não permitia que colocassem a sopa na própria boca.

O sofrimento era grande.

Em seguida, Deus levou o homem para conhecer o céu.

Entraram em uma sala idêntica à primeira: havia o mesmo caldeirão, as pessoas em volta e o mesmo tipo de colher de cabo comprido.

A diferença é que todos estavam saciados. Não havia fome, nem sofrimento.

“Eu não compreendo”, disse o homem a Deus, “por que aqui as pessoas estão felizes enquanto na outra sala morrem de aflição, se é tudo igual?”

Deus sorriu e respondeu:

“Você não percebeu? É porque aqui eles aprenderam a dar comida uns aos outros.”

Eis a questão.

O andar da carruagem sugere a transformação do Brasil numa grande maçaroca de gente desamparada.

Um país incapaz de atender suas demandas internas, completamente empobrecido, apesar de toda a riqueza à nossa volta.

Uma armadilha que criamos para nós mesmos, e que somente será desarmada quando aprendermos a alimentar os outros.

E não há como aprender isso sem resgatar os princípios éticos que deveriam nortear nossa sociedade.

Não é possível aceitar a mentira.. por exemplo..

.. considerando que vivemos em um mundo fake, a maior parte da informação à nossa volta é mentirosa, temos muito trabalho pela frente.

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